Relatório Bianual 2022-2023

A Unimed-Rio tem um plano

Desde 2016, a Unimed-Rio vive tempos desafiadores. Em 2020, a pandemia trouxe um cenário que nenhum planejamento estratégico poderia prever. E, em 2022, criou-se a tempestade perfeita. Em 2023, foi definido um plano estratégico de recuperação e criado o Escritório de Transformação. Com ações inéditas que vêm mudando o paradigma do setor de Saúde, as perspectivas para o futuro são promissoras. E quem conta aqui, neste capítulo, tudo isso para você é o presidente da Unimed-Rio, Antonio Romeu Scofano, médico ortopedista há oito anos à frente do Conselho de Administração.   

Vamos começar do começo, Romeu? Para quem não acompanhou a trajetória recente da Unimed-Rio, pode fazer um resumo dos quatro primeiros anos em que esteve à frente da empresa?

Vamos lá… São quase oito anos… Desde 2016, a Unimed-Rio vive tempos desafiadores. Lá atrás, assumimos o compromisso de recuperar a cooperativa, assolada por uma crise institucional, financeira, assistencial e de imagem. Com resultados negativos e um balanço com um passivo superior a R$1 bilhão, foi traçada uma estratégia para equilibrar as contas da empresa ano a ano. Aprovamos em assembleia a participação do médico cooperado nesta recuperação, com o desconto de um percentual simbólico em sua produção mensal, bem como o pagamento parcelado dos valores correspondentes à IN 20. Assinamos um Termo de Compromisso com a ANS, outros órgãos públicos, Sistema Unimed e associações hospitalares, que nos colocava metas gradativas de melhoria de diversos indicadores ao longo do tempo. E de 2016 a 2019, foram quatro anos de resultados positivos e melhoria dos números em geral, demonstrando claramente uma redução das dívidas em todos os aspectos.  

Em 2020 você foi reeleito. No auge da pandemia. Podemos dizer que esses últimos anos não foram só desafiadores, mas também transformadores?

Exatamente. Em 2020, a pandemia trouxe um cenário que nenhum planejamento estratégico poderia prever. Neste ano, os resultados foram super positivos, em função das restrições sanitárias para utilização durante praticamente todo o ano. Porém, o efeito rebote foi devastador, e segue sendo sentido até agora. Em 2021, a cooperativa ainda registrou resultado positivo, pequeno, em função das restrições de atendimento do primeiro semestre, ainda impactado por novas ondas da Covid-19. E, em 2022, criou-se a tempestade perfeita. Foi percebida uma mudança de comportamento dos clientes, que passaram a utilizar mais o plano de saúde. Não somente os clientes da Unimed-Rio, mas de todas as operadoras. Junto a isso, toda a demanda reprimida de 2020 e 2021 veio à tona e gerou dificuldades financeiras e de capacidade de atendimento.

O avanço tecnológico teve impacto duplo: primeiro pelos diagnósticos precoces de doenças, fundamentais para o tratamento, mas que, especialmente nos casos oncológicos, ampliaram os custos de maneira importante. Além disso, estiveram no centro do debate sobre o rol de procedimentos da ANS. A Agência passou a atualizar a lista semestralmente, trazendo impactos severos para os contratos, reajustados anualmente. E a decisão do STJ pelo rol taxativo com exceções criou ainda mais insegurança jurídica e trouxe novas jurisprudências para diversas condições especiais, principalmente para tratamentos de casos de transtorno de espectro autista.

Este cenário é ainda mais agravado por um setor de saúde suplementar em crise, pelo momento da economia do Estado do Rio de Janeiro e por concorrentes altamente capitalizados e competitivos. Todos estes fatores aumentaram o nível de risco de continuidade da empresa e alguns parceiros, como o próprio Sistema Unimed, mudaram de comportamento conosco, dificultando a gestão do custo de clientes fora do Rio de Janeiro. Resultado: todo o esforço dos anos anteriores foi destruído e a Unimed-Rio não só voltou às condições econômico-financeiras de 2016, como o passivo do balanço foi ampliado.  

Como você se sentiu, como líder da empresa e como médico, diante dessa situação?

Com tantas vidas sob nosso cuidado, me senti profundamente desafiado e também responsável por encontrar soluções eficazes para lidar com os resultados negativos. Foi uma mistura de preocupação, determinação e motivação para implementar mudanças significativas e garantir o bem-estar tanto dos colaboradores quanto dos clientes.

Como líder, reforcei a importância da transparência e comunicação, compartilhando os desafios enfrentados com minha equipe e buscando colaborativamente maneiras de superá-los. Como médico, senti a responsabilidade ética e moral de garantir que cada paciente continuasse a receber o melhor cuidado possível, mesmo diante de obstáculos.

Isso implicou em revisitar protocolos, buscar novas abordagens e trabalhar incansavelmente para mitigar os impactos negativos. Em última análise, essa experiência fortaleceu minha convicção de que, mesmo diante das adversidades, podemos encontrar maneiras de avançar e fazer a diferença.

E quais foram as maneiras encontradas? No que a Unimed-Rio precisa focar para voltar aos trilhos?

Em 2023, a Unimed-Rio contratou a consultoria da KPMG, umas das quatro maiores consultorias de negócios do mundo, e, em conjunto, definiu um plano estratégico de recuperação. A principal diretriz indicava que a Unimed-Rio deveria concentrar seus esforços em sua área original de atuação: municípios do Rio de Janeiro e Duque de Caxias. De acordo com dados, conseguimos gerir bem os custos dentro da cidade, mas temos muitas dificuldades em outras praças, em função da lógica do regime de intercâmbio (cliente Unimed-Rio sendo atendido em outra cidade por outra Unimed). A ideia então é que a Unimed-Rio trabalhe para ser uma grande empresa dentro da sua área, concentrando a maior parte de sua carteira no Rio de Janeiro e se desfazendo, de forma gradativa, da carteira de intercâmbio. Isso representa um retorno às origens de uma cooperativa criada para gerar valor e trabalho digno para seus médicos cooperados, dentro de sua área de atuação. Representa também uma empresa menor, com carteira menor, mas mais sustentável. 

Neste sentido, foi criado o Escritório de Transformação, que analisa e encaminha dezenas de oportunidades de ganho de eficiência, redução de custos e melhoria de receita. A partir destas análises, duas iniciativas ganharam maior expressividade. A primeira foi o projeto de migração da carteira de intercâmbio, ação inédita no Sistema Unimed. Estruturado em quatro fases, ele prevê a transferência gradativa de clientes com CNPJ ou endereço de residência fora do Rio e Caxias para a Unimed Ferj. Duas fases foram realizadas em 2023, a terceira em janeiro de 2024 e a quarta etapa está prevista para o primeiro trimestre deste ano. Cada fase é submetida à aprovação prévia da ANS. O resultado já apurado somente com a primeira etapa da migração aponta para uma redução de cerca de 10 pontos percentuais da sinistralidade, gerando uma economia de quase R$50 milhões. A projeção para quando as quatro fases estiverem finalizadas é de uma economia em torno de R$285 milhões por ano, o que traz um impacto positivo gigantesco para o resultado.

Outro projeto de impacto gerado pelo Escritório de Transformação é o de cancelamento de contratos deficitários. Foi identificado um grupo significativo de contratos com até 9 vidas e sinistro superior a 100% em mais de três anos consecutivos. Estes clientes estão sendo comunicados também gradativamente da decisão de rescisão prevista em contrato, em um movimento que pode gerar um potencial de cerca de R$85 milhões de economia em 12 meses. Por se tratar de contratos pequenos, a avaliação é que se perde pouca receita e o custo cai muito. O Plano de Melhorias Operacionais segue ainda com diversas outras ações de curto, médio e longo prazo, com o objetivo de colocar a Unimed-Rio novamente no caminho do desenvolvimento sustentável.  

Por que é tão importante que a Unimed-Rio retome esse caminho? Qual é o impacto da empresa no mercado de saúde suplementar tanto carioca como nacional?

Em um cenário em que 24% da população depende de plano de saúde privado, as operadoras, os seguros e as cooperativas são fundamentais para a gestão de saúde do país. A importância da Unimed-Rio no mercado de saúde suplementar é significativa devido à sua ampla base de clientes e médicos cooperados. Mesmo com a migração de parte da carteira, ainda figuramos no top 3 entre as empresas líderes de mercado nas cidades do Rio de Janeiro e Duque de Caxias. Em âmbito nacional, somos a 14ª mesmo com atuação municipal.

Com 512 mil vidas sob nossa cobertura e mais de 4 mil médicos cooperados, a empresa desempenha um papel crucial na oferta de serviços de saúde de qualidade no Rio de Janeiro. Hoje, a Unimed-Rio é a maior operadora de saúde suplementar em número de médicos dos municípios do Rio de Janeiro e Duque de Caxias, com quase o dobro de consultórios em relação aos principais concorrentes. São 7.139 pontos de atendimento.

A Unimed-Rio passou de cooperativa para um grupo econômico de saúde, com 20 tipos de negócios. Somente nossa rede própria possui oito unidades, sendo um hospital, que é referência na cidade, quatro prontos atendimentos próprios, dois centros de excelência física e um espaço de prevenção. Sem contar nossa rede credenciada, que conta com mais de 500 prestadores à disposição dos nossos clientes.

Para se ter uma ideia de volume, somente em 2023, foram realizadas quatro milhões de consultas com nossos médicos, mais de 20 milhões de exames e cerca de 170 mil cirurgias. As sessões com psicólogos passaram de 1 milhão e as sessões de atendimento TEA chegaram a 1,5 milhão.

Comparado ao número de reclamações na ANS, que nos coloca como a operadora mais reclamada do Brasil, o índice de reclamação frente ao total de procedimentos realizados é de 0,05%. Não significa que não precisamos melhorar e evoluir, mas quando colocamos na perspectiva ampla, mostra um cenário de entrega do serviço infinitamente superior ao de problemas.  

No mercado de trabalho, a Unimed-Rio também cria empregos diretos, além dos indiretos gerados através de toda cadeia médica. Nossos mais de 3.700 colaboradores desempenham um papel fundamental na operação eficiente da empresa e na garantia do atendimento adequado aos clientes.

Queria destacar ainda que a empresa é a operadora de saúde mais lembrada pelos cariocas de acordo com pesquisa Top of Mind do IBRC (Instituto Ibero-Brasileiro de Relacionamento com o Cliente) e está entre as marcas preferidas dos cariocas na categoria Plano de Saúde segundo pesquisa do Jornal O Globo de 2023. Isso também é um indicativo poderoso de sucesso, competitividade e relevância no mercado.

Os desafios regulatórios nesse setor são cada vez maiores. Como a ANS vem lidando com a situação da Unimed-Rio?

Em 2022, a ANS aprovou o Programa de Saneamento Assistencial (PSA) apresentado pela empresa, uma demonstração de que as propostas da operadora são factíveis. A Unimed-Rio, que está em Direção Técnica desde 2016 e Direção Fiscal desde 2015,  vem trabalhando incansavelmente para que as ações sugeridas sejam implementadas e as metas cumpridas. Importante ressaltar que, por definição do próprio órgão regulador, tanto a Direção Técnica quanto a Direção Fiscal não têm caráter de intervenção e sim de acompanhamento.

Além disso, em 2023, a Unimed-Rio vendeu, por cerca de R$350 milhões, as ações que detinha do Centro de Excelência Oncológica e do Hospital Marcos Moraes para o Grupo Oncoclínicas. Deste valor foi descontado o valor das dívidas do Ceon e do HMM e a cooperativa recebeu o valor líquido. A operação seguiu as condições do Termo de Ajustamento de  Conduta firmado com a ANS e demais órgãos públicos, que prevê a venda de ativos como forma de buscar o reequilíbrio financeiro.

A expectativa é que, a partir do segundo trimestre 2024, com todas as iniciativas implementadas, a cooperativa tenha uma estrutura de capital diferente, com mais receitas do que despesas, passando a gerar caixa mensalmente, tendo resultado operacional mensal positivo e criando espaço para suportar negociações de dívidas adquiridas ao longo desse período. Quando isso for possível, a Unimed-Rio solicitará aprovação da ANS para que a KPMG vá ao mercado financeiro nos representando a fim de captar investimentos e viabilizar a recuperação de curto prazo. Vale destacar que, apesar do montante de dívida hoje ser superior a R$2 bilhões, a menor parte deste valor é financeiro. A maior se divide em naturezas contábeis, econômicas, regulatórias e tributárias.

Em paralelo, a Unimed-Rio ainda conta com seu hospital próprio, avaliado em mais de R$1 bilhão, capaz tanto de apoiar na gestão assistencial como de se colocar como um ativo que, se vendido parcial ou integralmente, pode contribuir para o aporte financeiro.  

O que você espera de 2024?

Para 2024, a visão é de que seja um ano marcado pelo reequilíbrio da Unimed-Rio, e a palavra para o exercício é estabilidade. A cooperativa se apresenta novamente como uma empresa carioca, de volta às suas origens, com um modelo comercial e de aceitação que prioriza vendas de qualidade, retenção de clientes e o desenvolvimento de produtos adequados a este posicionamento.

Do ponto de vista da gestão do custo e da busca da eficiência operacional, quatro grandes iniciativas se apresentam para o novo ano: a criação de uma esteira digital para apoiar o trabalho de auditoria assistencial, o uso de inteligência artificial para realizar análise de risco e fraude, a monetização da jornada do paciente e o fortalecimento de programas e projetos de gestão de saúde.

Não ocupamos mais a liderança de mercado, mas estamos conscientes de como vamos voltar a crescer e como vamos retomar o primeiro lugar. Com certeza, será de forma sustentável. Outra coisa é certa: a Unimed-Rio tem um plano pra isso.

Qual é sua mensagem final para os médicos cooperados, sócios da empresa?

Sou cooperado e filho de médico cooperado. Desde os anos 80, quando meu pai se tornou cooperado, respiro Unimed-Rio. Era o início da saúde suplementar. Uma realidade bem diferente. Hoje, o mercado é muito mais agressivo e obstáculos fazem parte do processo. Temos dias difíceis e outros nem tanto. Mas nenhum dia é fácil. Quando as dificuldades se apresentam, precisamos estar preparados e ter uma equipe capaz de lidar com elas. Podem ter certeza que estamos e que temos.

A Unimed-Rio é uma empresa diferente das outras do mercado. Fazemos parte do maior sistema de cooperativas de saúde do mundo, como vocês bem sabem. Não existe nenhuma outra marca no Brasil que seja criada e dirigida por médicos, que cuida de vidas e promove saúde de forma tão orgânica, inata, necessária.

Somos relevantes no que todo mundo deseja: Saúde. Para dar – sim, nossa doação é diária – e vender – é preciso pagar as contas. Nosso apelo é emocional e se estende por gerações. De cooperados, de clientes, de colaboradores, de corretores. Aqui dentro a gente diz que tem sangue verde.

Em 2023, quando estávamos migrando beneficiários, mais de 100 mil pessoas se tornaram clientes da Unimed-Rio. A confiança deles – e dos que permanecem – é o que nos move. E quando olho para o futuro, vejo pessoas querendo mais saúde, mais qualidade de vida, mais cuidado, com a consciência de que tudo isso também depende delas.

Estou animado e confiante com a perspectiva que temos pela frente. Vamos progredir na nossa recuperação e mostrar que podemos dar a volta por cima. De novo. Somos resilientes. Embora tenhamos problemas no curto prazo, podemos voltar ao lugar ao qual pertencemos.